domingo, 20 de outubro de 2013

Vamos evoluir Brasil !


Todos os bailarinos brasileiros sonham em dançar fora, em
uma companhia russa, inglesa, americana... São poucos que
querem continuar dançando no país do amarelo e verde. Mas
a culpa não é dos bailarinos, e sim do país. Quem não iria
preferir sempre dançar com a sua família, amigos
conterrâneos, na plateia? Há algo mais injusto do que ser
formado por mestres brasileiros, em uma escola brasileira, e
não poder contribuir para a cultura do país que nasceu?
Existem poucas companhias clássicas não por falta de
competência, mas por falta de patrocínio, por falta de
investimento, de olhares, de esperança.
Será que as autoridades não percebem que brasileiros não
gostam somente de ir a estádios, mas grande parte também
frequenta teatros? Para os bailarinos clássicos ouvirem os
aplausos da idolatrada "pátria amada", muitos tem que
dançar com o estômago vazio, com a preocupação de como
irá pagar as contas, de até quando vai conseguir se sustentar.
Muitos saem de uma cidade pequena para dançar em grandes
cidades, que onde se encontram as grandes companhias
clássicas, companhias estas que são poucas, e que nem
sabem até quando vão sobreviver, não sabem até quando vão
conseguir colocar o brilho nos olhares dos brasileiros.
É uma falta de incentivo revoltante; dói ouvir o salário dos
jogadores de futebol, que não chega nem perto de uma dor de
alongamento. Não é porque não falamos no palco que não
temos vozes; não temos sentimentos e sonhos. Não é porque
não gritamos que não queremos ser ouvidos por alguém que
deixe de achar o ballet algo apenas bonito, e cultural e cultive
algo que faça brotar oportunidades.
Seria muito mais confortável escolher ser médico, advogado,
ou qualquer outra profissão, mas não escolhemos ser
bailarinos, nosso coração escolhe. Não escolhemos passar
dificuldades para realizar um sonho difícil, não ouvimos
"Ballet não dá futuro" dos pais porque é nossa frase
preferida, não choramos depois da aula por dor muscular,
mas porque dói em pensar que o ballet realmente não vai dar
futuro nesse país.
O ballet clássico por si só não é fácil, conseguir se sustentar
dele é mais difícil ainda. Para saltar bem exige técnica, mas
para saltar as dificuldades fora do ballet, é preciso ter força,
vontade e foco. Admiro os grandes nomes brasileiros que
hoje brilham no exterior, que são muitos. Mas me preocupa
cada dia mais, quanto mais eles brilharem lá fora, menos o
ballet clássico no Brasil vai brilhar, e terá cada vez menos
chance de ser notado, e só depende de nós para não ser
apagado. Porque uma nação que vive todos os dias com a
violência em excesso, com o descaso com a saúde e
educação, merece ter momentos de magia e sonho, porque
enquanto nós lutamos e acreditamos na valorização da
dança.
Bailarinos não querem viver de luxo, e ganhar milhões ao
dançar; só querem o suficiente para se sustentar, porque por
mais que o ballet alimente a alma, bailarino tem muita fome,
de comida, de direitos e valorização. O ballet clássico apesar
de ter seus passos em francês, muitos dos que os executam
falam português em nome do Brasil, só falta o Brasil falar em
nosso nome.

Por Lucas Splint
 
 
 

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