domingo, 27 de outubro de 2013

O corpo de baile.



A sincronia dos primeiros bailarinos, solistas e corpo de baile, é essencial para resultar em bom espetáculo.
O corpo de baile é tão importante quanto os primeiros bailarinos, no palco contribui com a beleza e é necessário para construir o enredo da história. Fora dele são eles que animam os demais ao chegarem tristes nos ensaios, os acalmam antes de fazer a primeira variação, ajudam a colocar o "tutu" no “backstage”, são as primeiras pessoas a cederem abraços quando as cortinas fecham, ou quando os primeiros bailarinos não marcam a cabeça na pirueta, para eles não perderem a cabeça depois. Em nenhum lago um cisne conseguiria viver sozinho, em nenhuma companhia um bailarino viveria sem ter amigos.
O corpo de baile são diversos corpos bailando, são diversos artistas com corações que batem em oito tempos, no qual eles deixam de ser bailarinos, para se tornarem uma família.

Bailarinas: Cia Brasileira de Ballet.


 

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O brilho de uma pessoa :

Por Lucas Splint:

Certamente você verá bailarinas no corpo de baile com a
perna mais alta, com o alongamento melhor que a primeira
bailarina, vai se perguntar por que ela ocupa um posto tão
importante já que há outras bailarinas "melhores". Mas na
hora de fazer "Odette" é ela que te faz chorar, e você percebe
que a diferença vai além de uma perna alta, de um colo de
pé... Porque ela é artista, dança e não faz ginástica no palco.
É ela que fora dos palcos não se envolve em confusões, fica
nos ensaios extras, onde aquela que você considera
tecnicamente melhor prefere ir à praia aos sábados, ir a
balada na sexta, faltar o ensaio na quinta, ao invés de
ensaiar. Onde sim, poderia ser primeira bailarina, mas o
diretor de uma companhia não enxerga as bailarinas apenas
quando estão de sapatilhas, mas também quando as tiram
dos pés.
Primeira bailarina tem que encantar, tem que ser aquela que
mesmo se estiver no corpo de baile vai se destacar das
demais, sair do ballet, mas não deixar o ballet sair de dentro
dela, ser consciente que a fada que as crianças veem no
palco não pode ser vista depois na rua com um copo de
bebida nas mãos.
Apenas pensar em querer ser primeira bailarina deixa poucas
chances de conseguir, mas se pensar em encantar quando
dança para mil pessoas em um teatro da mesma forma que
dança para uma na praça, pode não só ser primeira bailarina,
mas também ser inspiração para o mundo.
O problema é que as pessoas dão mais importância ao status
do que ao seu bem estar, deixam a alegria de dançar em
segundo plano e são consumidas pela ganância. É triste, pois
além de não ser uma primeira bailarina, aos poucos vai
deixando de ser bailarina, vai parando de se encantar ao
subir no palco, de se emocionar ao ouvir os aplausos...
Uma bailarina do corpo de baile às vezes é muito mais feliz
do que uma grande estrela, pois ela entra no palco e
simplesmente dança. Claro que ela um dia gostaria de ser
uma "Giselle" ou uma "Kitri", mas se ela brilhar na última fila
do segundo elenco o holofote automaticamente vai se
direcionar a ela. E aí, por mais que os holofotes se apaguem,
ela vai continuar brilhando.


 

Artistas do Theatro Municipal fazem manifestação na Cinelândia

Reportagem :
http://m.jb.com.br/cultura/noticias/2013/10/24/artistas-do-theatro-municipal-fazem-manifestacao-na-cinelandia/?fb_action_ids=678543478830015&fb_action_types=og.recommends&fb_source=other_multiline&action_object_map=%255B166702360205129%255D&action_type_map=%255B%2522og.recommends%2522%255D&action_ref_map=%255B%255D

Vídeo :
https://www.facebook.com/photo.php?v=10151957509409002

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A dor e o corpo.


Todo amanhecer para bailarinos é complicado. O chão que
você não sente ao pisar, as pernas que doem, as bolhas que
perturbam... Seu corpo te dá bom dia estalando.
É uma relação de amor e ódio com a dor. É inevitável não se
viciar nessas dores diárias que fazem questão de te lembrar
sempre que você é bailarino. É um desgaste com sabor de
trabalho.
E nunca vai parar. Tem dia que dói menos, tem dia que dói
mais. Lembrando que me refiro ao corpo, pois se for avaliar o
coração de um bailarino, perceberá que não existem feridas,
porque não se deixa ferir.
Você entrega seu amor ao ballet sem medo, pois tem a
certeza de que ele não te abandonará. Seu coração vai estar
sob o domínio da arte, em troca você receberá algumas
bolhas sim, feridas, lesões; mas prefiro um corpo dolorido a
um coração machucado.
Todos chegam à aula reclamando das dores, às vezes até
choram, mas no fundo sabem que fazem parte da sua
felicidade, sabem que quando um dia não as sentirem mais,
sentirão falta.
E acredito que sem as dores os aplausos não seriam tão
gratificantes, com sonoridade de superação, e com uma
sensação de orgulho, por nunca desistir.
E quando for reclamar da dor, substitua o semblante triste por
um sorriso, porque se você não estivesse com ela, o ballet
não estaria com você.



Escrito por Lucas Splint

domingo, 20 de outubro de 2013

O salto de Don Quixote

O nome deste passo é Sissone.

Primeiro: é necessário ter uma boa flexibilidade; alongar bastante é essencial, afinal de contas isso vai lhe ajudar a saltar e também prevenir possíveis distensões musculares.

Segundo: é preciso treinar bastante o plié na barra e em exercícios do centro. É exatamente o plié que vai fazer com que você salte, pegue impulso. Também é preciso saber "aterrissar", porque se você não cair de uma forma suave, poderá machucar seus joelhos seriamente com o passar do tempo.

Terceiro: outro item indispensável para a execução deste salto é a boa colocação das costas durante o pulo. Como é feio quando uma bailarina confunde ginástica rítmica com ballet. Muita atenção!!! Encaixe seu quadril e não vire tanto a coluna. É muito mais bonito uma bailarina encaixada e com postura correta, do que uma com a perna na cabeça, mas toda torta.

(Fonte: Bailarina de Corpo e Alma | Imagem: Natalia Osipova)

Vamos evoluir Brasil !


Todos os bailarinos brasileiros sonham em dançar fora, em
uma companhia russa, inglesa, americana... São poucos que
querem continuar dançando no país do amarelo e verde. Mas
a culpa não é dos bailarinos, e sim do país. Quem não iria
preferir sempre dançar com a sua família, amigos
conterrâneos, na plateia? Há algo mais injusto do que ser
formado por mestres brasileiros, em uma escola brasileira, e
não poder contribuir para a cultura do país que nasceu?
Existem poucas companhias clássicas não por falta de
competência, mas por falta de patrocínio, por falta de
investimento, de olhares, de esperança.
Será que as autoridades não percebem que brasileiros não
gostam somente de ir a estádios, mas grande parte também
frequenta teatros? Para os bailarinos clássicos ouvirem os
aplausos da idolatrada "pátria amada", muitos tem que
dançar com o estômago vazio, com a preocupação de como
irá pagar as contas, de até quando vai conseguir se sustentar.
Muitos saem de uma cidade pequena para dançar em grandes
cidades, que onde se encontram as grandes companhias
clássicas, companhias estas que são poucas, e que nem
sabem até quando vão sobreviver, não sabem até quando vão
conseguir colocar o brilho nos olhares dos brasileiros.
É uma falta de incentivo revoltante; dói ouvir o salário dos
jogadores de futebol, que não chega nem perto de uma dor de
alongamento. Não é porque não falamos no palco que não
temos vozes; não temos sentimentos e sonhos. Não é porque
não gritamos que não queremos ser ouvidos por alguém que
deixe de achar o ballet algo apenas bonito, e cultural e cultive
algo que faça brotar oportunidades.
Seria muito mais confortável escolher ser médico, advogado,
ou qualquer outra profissão, mas não escolhemos ser
bailarinos, nosso coração escolhe. Não escolhemos passar
dificuldades para realizar um sonho difícil, não ouvimos
"Ballet não dá futuro" dos pais porque é nossa frase
preferida, não choramos depois da aula por dor muscular,
mas porque dói em pensar que o ballet realmente não vai dar
futuro nesse país.
O ballet clássico por si só não é fácil, conseguir se sustentar
dele é mais difícil ainda. Para saltar bem exige técnica, mas
para saltar as dificuldades fora do ballet, é preciso ter força,
vontade e foco. Admiro os grandes nomes brasileiros que
hoje brilham no exterior, que são muitos. Mas me preocupa
cada dia mais, quanto mais eles brilharem lá fora, menos o
ballet clássico no Brasil vai brilhar, e terá cada vez menos
chance de ser notado, e só depende de nós para não ser
apagado. Porque uma nação que vive todos os dias com a
violência em excesso, com o descaso com a saúde e
educação, merece ter momentos de magia e sonho, porque
enquanto nós lutamos e acreditamos na valorização da
dança.
Bailarinos não querem viver de luxo, e ganhar milhões ao
dançar; só querem o suficiente para se sustentar, porque por
mais que o ballet alimente a alma, bailarino tem muita fome,
de comida, de direitos e valorização. O ballet clássico apesar
de ter seus passos em francês, muitos dos que os executam
falam português em nome do Brasil, só falta o Brasil falar em
nosso nome.

Por Lucas Splint
 
 
 

'Sagração da Primavera' estreia no Rio de Janeiro

http://g1.globo.com/videos/rio-de-janeiro/t/todos-os-videos/v/sagracao-da-primavera-estreia-no-rio-de-janeiro/2900698/

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Fouettes

1. Darcey Bussel - Royal Ballet (Le Corsaire)
2. Lucia Lacarra - Bayerische Staatsoper (Le Corsaire)
3. Maria Alexandrova - Bolshoi Ballet (Swan Lake)
4. Alina Cojocaru - Royal Ballet (Don Quixote)
5. Evgenia Obraztsova - Bolshoi (formerly Mariinsky Ballet) (Don Quixote)
6. Natalia Osipova - Bolshoi/Mikhailovsky/American Ballet Theatre (Flames of Paris)
7. Svetlana Zakharova - Bolshoi Ballet (Don Quixote)
8. Polina Semionova - Berlin State Opera (Swan Lake)
9. Marianela Nunez - Royal Ballet (Don Quixote)
10. Gillian Murphy - American Ballet Theatre (Swan Lake)

Paixão :

Todo adolescente tem uma paixão de escola; uma paixão por
cantores, por baladas, seriados e afins. Com Lisa não foi
diferente. Ela se apaixonou, sim, mas se apaixonou tanto que
acabou se tornando um amor. E, diferente das amigas, ela se
apaixonou pelo ballet clássico.
Ela andava nas ruas e pequenas bailarinas que passavam por
ela a faziam pensar que estava indo na contra mão por conta
da idade, mas ela não percebia que ela só teria que virar uma
esquina a mais que elas para chegar ao destino desejado: o
de ser bailarina clássica. E mesmo sabendo que precisaria
percorrer um percurso maior e que encontraria alguns sinais
vermelhos pela frente, ela acelerou e foi em direção ao mundo
das sapatilhas, onde queria estar há tempos, mas que havia
se perdido pelo caminho.
Era convidada para assistir filmes, para sair à noite, para
aniversários, passeios, e embora os programas fossem
diferentes as respostas eram sempre as mesmas "Não posso,
tenho ensaio”. Tornou-se cada vez mais ausente para os
amigos e familiares, mas se tornava mais presente para ela;
estava se encontrando. Embora parecesse sozinha em uma
sala de ballet, na qual fazia questão de ensaiar depois do
horário, ela estava acompanhada do desejo, do sonho, da
identificação e realização.
Lisa não se importava se estava no nível básico, pois ela
sabia que para construir uma carreira ela precisaria
primeiramente de base. Só tinha pressa para uma coisa, a
qual era chegar cedo às aulas; e, uma vez estava dentro sala,
ela não se importava com o tempo. Fazia uma hora de aula
se multiplicar, pois fazia com tanto prazer que parecia que a
esta nunca acabava. Só olhava para o relógio para marcar a
cabeça na pirueta, aí sim ela se preocupava em girar a
cabeça mais rápido que os ponteiros.
Lisa não era alongada, mas não se impressionava com pés na
cabeça. Preferia pôr o coração nos pés, sentir cada
movimento. Sabia que flexibilidade era essencial, mas
passageira. Com o tempo só sobraria o amor pelo ballet.
Quem não o tem, ao envelhecer não terá vestígios em si do
que viveu enquanto tinha sapatilhas nos pés.
Não se sentia diminuída ao lado de bailarinas profissionais;
procurava aprender com estas, que já haviam passado por
tudo o que ela passava. Não importa se mais novas, o fato é
que também tiveram que aprender e um dia já foram alunas
iniciantes, a idade é um detalhe.
Ela trabalhava e pagava suas aulas. Passou a trabalhar com
mais prazer, pois sabia que o dinheiro terminaria em algo que
lhe dava prazer. E que uma hora seria melhor que todas as 23
horas do dia, porque essa uma hora lhe proporcionaria um
sorriso imenso e verdadeiro, denunciando uma felicidade
eterna. O coque que ela fazia com seus cabelos, sempre era
desfeito depois das aulas, mas o importante é que ela sempre
se olhava no espelho e se via com ele.
A saia do ballet ela trocou por todas as de balada. Assim
como posteriormente trocou "baladas" por "bailar", assim
como trocou a adolescência pela eternidade, a bebida por
algo muito mais viciante, no qual ela só ficaria "bêbada"
depois de alguns "fouettés". Mentira, na verdade ela não
trocou nada pelo ballet. Quando nasceu trocou o ballet por
tudo, mas procurou e o achou, e o guardou no corpo e na
alma, onde ninguém o arrancaria dela, nem ela mesma.
Toda história sempre tem um final, feliz ou triste, mas a Lisa é
você, e você que é responsável por ele. Dou todo direito de
mudar algumas partes, desde que não mude o destino, sendo
ele o ballet, para sempre.

Por Lucas Splint.


 

O casamento dos sonhos ...

Thiago Soares e Marianela Nunez troca de votos
Uma cena bonita, romântica All I Am, uma história de amor sobre duas das maiores bailarinas do mundo. Com lançamento previsto para Primavera de 2014.

sábado, 12 de outubro de 2013

Feliz dia das criaças !

Não precisa ter corpo de bailarina para fazer balé.

Precisa ter alma de bai­la­rina!
Essa alma vai levar o seu corpo à forma que ela pre­cisa para se expressar.
Olá! Meu nome é Christine White e, quando fiz 50 anos, decidi me tor­nar bai­la­rina. No iní­cio, tinha ver­go­nha de assu­mir esse desejo até para mim mesma mas, sonho que resiste a 50 anos de outras ten­ta­ti­vas tem, em si, um forte poten­cial para se tor­nar rea­li­dade. É assim que, desde o dia 25 de janeiro de 2012, come­cei a me pre­pa­rar para não só con­se­guir, mas pro­var, publi­ca­mente, que é pos­sí­vel, sim, che­gar a um nível de exce­lên­cia até em ati­vi­da­des tão apa­ren­te­mente com­ple­xas, como o balé – e em qual­quer idade.
Tudo come­çou quando me depa­rei com uma foto em que eu tinha 13 anos. Uma cole­gui­nha da escola, que estu­dava balé no Teatro Municipal de São Paulo, pre­ci­sou de alguém, que fizesse o papel mas­cu­lino na festa de fim de ano. Ela me ensi­nou o que dava, em dois meses, e lá fui eu. Fui e dei­xei uma parte de mim lá, parada, espe­rando a chance de dar o passo seguinte, o que só acon­te­ceu 37 anos depois, em 2012. Quando vi a foto dos 13 anos, per­cebi, ano pas­sado, num acesso de choro, que eu tinha ficado ali durante anos e, em mim, algo ainda espe­rava a chance de se mani­fes­tar: a minha intacta alma de bailarina.
Pensei comigo: é urgente ser feliz. E há um ano e oito meses, venho ten­tando rein­ven­tar o apren­di­zado de balé, bus­cando solu­ções novas para velhas difi­cul­da­des. E por falar em difi­cul­dade, pre­ciso dizer, desde já, que não acre­dito em difi­cul­dade para apren­der, acre­dito em difi­cul­dade para ensi­nar. E que quando você começa aos 50, o que nor­mal­mente se começa aos 5 anos, você pode não dis­por dos mús­cu­los com o vigor que eles já tive­ram um dia, mas há algo em você que ajuda de uma forma ines­pe­ra­da­mente deci­siva: a expe­ri­ên­cia de vida.
É com a força da inte­li­gên­cia que pode­mos com­pen­sar o que nos falta em força física. A todo momento penso em como con­tor­nar as difi­cul­da­des de alcan­çar deter­mi­nado resul­tado no balé, bus­cando uma solu­ção NOVA para che­gar a posi­ções antigas.
O balé existe há 600 anos? Em mais de meio milê­nio, tanto pro­gresso já foi alcan­çado pela huma­ni­dade… Desde a mais moderna tec­no­lo­gia médica — como o PRP que rege­ne­rou a car­ti­la­gem do meu joe­lho, logo de saída (como vou con­tar aqui ao longo da nossa con­vi­vên­cia), até os recen­tes recur­sos da neu­ro­ci­ên­cia, que têm me aju­dado imen­sa­mente a supe­rar, com a mente, algu­mas difi­cul­da­des do treino. E isso, sem falar nas téc­ni­cas de auto­co­nhe­ci­mento cor­po­ral, que aju­dam imen­sa­mente a evi­tar a dor, e foram sendo des­co­ber­tas ao longo dos últi­mos sécu­los, como a Técnica de Alexander e o Pilates.
Vou divi­dir com você, a par­tir de agora, todas as solu­ções que tenho con­se­guido. E vou con­tar como venho tirando pro­veito de tudo o que pode­ria ser con­si­de­rado como des­van­ta­gem. Até da minha bai­xís­sima tole­rân­cia a dor, que me levou a bus­car – e estou encon­trando – na Técnica de Alexander, um meio de subir na tão temida sapa­ti­lha de ponta, sem vio­len­tar o meu corpo. Mas Técnica de Alexander e sapa­ti­lha de ponta, o que uma coisa tem a ver com a outra????? Vou te dizer.
 

Fonte :http://lojaanabotafogo.com.br/

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

. ♥

O enacanto de Giselle !

Todos deveriam aprender ao ver o ballet de repertório "Giselle". Mas não aprender sobre a técnica do ballet clássico, e sim a amar de forma ingênua. A diferença de 1840 para 2013 nota-se não apenas no vestuário, mas também na forma de extrair prazer nas coisas simples, ao dançar, ao amar, amar alguém que não esteja vestido como príncipe, mas que você o veja como príncipe. A vontade que ela tinha de bailar era maior que o medo de morrer, por conta da sua fraqueza no coração. Na verdade todos nós temos o coração frágil, porque morrer por "dentro" ao se deparar diante de uma mentira é tão doloroso quanto morrer por fora. A cena da loucura representa nada menos do que diversas pessoas apaixonadas que enlouquecem depois de acordarem de um sonho; de receber um adeus por sms; de ver a pessoa indo embora pela janela de um ônibus; de sentir o cheio dela no travesseiro e lembrar-se de quando sentia o mesmo cheiro na pele desta; de o "Te amo" se transformar em "oi"; de perceber que não vive mais um conto de fadas. Giselle representa uma garota simples, mas de sentimentos tão nobres, de olhares tão esperançosos... Está ai outra grande diferença, ninguém mais olha para o futuro com olhar de esperança; muito menos para o presente. Ninguém mais acredita que se pode ser feliz, e insistem em ao terminar um relacionamento, falar "Não deu certo". Sendo que se a pessoa arrancou um sorriso de você por vários os dias já deu certo. A eternidade não é sinônima de felicidade. Giselle prefere não acreditar em lendas, em pessoas; ela prefere acreditar no que vê, não no que não existe; prefere viver a sua realidade. Fica deslumbrante ao receber um colar de valor da Batilde, mas não percebe que este brilha menos que o seu olhar; tem menos valor que seus sentimentos. O problema é que ela não olha para dentro de si; prefere reparar que veste um vestido humilde. Mas é só uma garota, nem teve tempo de aprender sobre a vida, nem teve tempo de aprender sobre o amor... Por mais que ela vivesse por anos ela não aprenderia, porque amor não se aprende, se vive. E se fosse verdadeiro ele viveria eternamente. E por mais que o seu sorriso fosse substutuído por lágrimas, ela não deixaria que acontecesse o mesmo com o Albrecht. Ela poderia não ter aprendido, mas teria muito a ensinar para quem assiste. Ballet é uma arte que além de te ensinar a dançar, te ensina a ter outros olhares sobre a vida através dos ballets de repertório. Destacam-se aqueles bailarinos que não se atém apenas ao "en dehors", mas que extraem as lições que a dança oferece para ter uma vida melhor fora da sala de aula. Giselle é meu ballet favorito por ser bonito por diversos aspectos, e por a sua história ser atual. Todo mundo tem uma "Giselle" dentro de si e que acredita em "bem me quer, mal me quer", por mais que se considere moderno.. Por Lucas Splint