Triste
não é fazer uma aula ruim, não fazer um ensaio bom, errar na
apresentação. Triste é estender a malha ou o collant no varal para secar
todas as gotas de suor de anos de
dedicação, guardar a sapatilha junto com os sapatos que ficaram fora de
moda e você não usa mais, e ir esquecendo aos poucos o som do piano...
Falam que sonhar é de graça, mas na verdade custa caro, ainda mais no
país em que vivemos onde dança é vista como hobby, e tudo que envolve a
mesma, sapatilhas, collant e afins são de custo alto. E muitos que não
conseguem pagar acabam pagando mais caro ainda por não continuarem
fazendo o que amam.
E como todos os pássaros quebram as asas param
de voar, bailarino quando quebra os pés ou ocorre algum acidente
similar, também param de voar.
Mas alma de bailarino é grande demais
para ficar presa em um corpo, corpo de bailarino é inquieto demais para
ficar em cima de uma cama. O problema é que a dor do machucado nunca
vai ser maior que a dor de não ouvir mais os aplausos, a música
preferida de todos os artistas, pois é cantada por diversas mãos, e
nestas há uma veia ligada ao coração, transmitido toda emoção sentida.
É há muito talento parado pelas esquinas, em clínicas, escritórios. Que
para mim, bailarino, só deveria parar para fazer balancé.
E o
relógio não conta apenas até oito como todos estão acostumado, ele é até
rápido demais, às vezes não dando espaço para arrependimento.
Nunca
deixem que seus olhos, os quais foram feitos para refletir os holofotes
e o brilho dos tutus, apagarem. Só quando os holofotes do palco
apagarem e as cortinas fecharem, mas não quando você fechar a sua
cortina e acabar com o seu espetáculo chamado vida, porque ele não tem
mais de uma temporada.
— Lucas Splint
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