Saiu no jornal O Globo deste domingo... Matéria sobre o bailarino Thiago Soares!
"A volta ao lar da estrela do Royal Ballet
No ápice da carreira, Thiago Soares se prepara para protagonizar ‘Onegin’ no Municipal e dançar e atuar com Marília Pêra
RIO - Era um convite irrecusável, até mesmo para ele, primeiro bailarino do Royal Ballet de Londres, acostumado às melhores produções do mundo, com a agenda sempre cheia de compromissos. Thiago Soares nem hesitou ao ler o e-mail de Hélio Bejani, diretor artístico do balé do Teatro Municipal, chamando-o para estrelar "Onegin", ao lado de Ana Botafogo, que estreia dia 4 de agosto:
— O Municipal foi minha primeira casa, o teatro que me proporcionou sair pelo mundo. É hora de devolver um pouco o que aprendi.
O espetáculo escolhido também ajudou na decisão.
— É um de meus balés favoritos. É uma história que lida com amor, perda, decepção, honra, derrota, morte. Todo mundo se identifica. É um balé muito daqui — diz, batendo com a mão no coração.
Há ainda outra razão para o acolhimento imediato do convite: a participação de Ana Botafogo, que faz em "Onegin" sua despedida dos grandes balés — ela agora só pretende dançar em ocasiões especiais.
— Ana fez um trabalho de embaixatriz da dança brasileira por muitos anos — elogia ele.
Thiago vive o ápice de sua carreira. Em abril, esteve com o Royal em "Sweet violets", inspirado em Jack, o Estripador. O coreógrafo Liam Scarlett transformou Jack num espírito mau que se apossa de quatro suspeitos de ser o serial killer. Thiago vivia um deles, um pintor.
— Foi uma experiência única. Era um papel criado especificamente para mim. Tinha uma linguagem teatral muito forte.
A exemplo de "Sweet violets", "Onegin" exige muito trabalho de interpretação, para contentamento de Thiago:
— Se pudesse ter tido duas vidas, teria estudado para ser ator. Esse balé me encanta porque posso viver meus dois sonhos, ser bailarino e ser ator.
Mas sua vontade de representar está longe de se esgotar. Em 2013, subirá de novo ao palco, agora na peça "O belo indiferente", de Jean Cocteau, que mostra a paixão obsessiva de uma artista pelo amante indiferente. A protagonista será Marília Pêra. O espetáculo terá dupla direção: do cineasta Henrique Goldman (de "Jean Charles") e do diretor de ópera André Heller-Lopes. O coreógrafo é Fábio de Mello.
— Na peça, o personagem masculino entra mudo e sai calado. Quando vi uma encenação, pensei: "Quero fazer isso com dança." Afinal, se ele não fala não há por que não dançar. Como bailarino, eu não tenho voz, mas sempre que estou no palco tento contar o máximo de histórias possíveis com meu corpo.
A ideia é que haja uma parceria estreita entre teatro e dança.
— Já vi obras onde o teatro usa a dança como adereço. Não é o que quero fazer — explica. — Embora não fale, vou atuar, além de dançar. E Marília, além de atuar, vai dançar. Vai ser minha estreia como ator. Vou perturbar os diretores para explorarem ao máximo esse meu lado.
A escolha do texto nasceu de uma conversa com o amigo Heller-Lopes, que responderá pela linha narrativa. Goldman vai colaborar na criação das cenas da peça, que contará com vídeos.
Os ensaios de "Onegin", criado pelo fundador do Balé de Sttuttgart, John Cranko, para a brasileira Marcia Haydée, começaram na segunda, logo após a chegada de Thiago de Londres. Ele embarca hoje à noite de volta, para dançar na despedida da sua diretora no Royal Ballet, Monica Mason, que está se aposentando. Quando retornar ao Rio, na sexta, quer se reunir com Marília. Thiago sonhava com ela para o papel, feito originalmente para Edith Piaf.
— Eu falei com ela com muita vergonha. Afinal, ela é a Marília, e quem sou eu? — diz ele, aliviado com o "sim" da atriz.
A temporada de "Onegin" vai até dia 12. Thiago já dançou o balé numerosas vezes — em 2006 ganhou o prêmio Outstanding Classical Dancer dos críticos ingleses —, mas no Brasil só participou de uma montagem em 2006, com Cecilia Kerche, também no Municipal. Ele entrou no teatro em 1998, no corpo de baile. Foi chamado por Dalal Achcar, após conquistar a medalha de prata no Concurso Internacional de Dança de Paris. Menos de dois anos depois, já fazia os papéis de protagonista.
— Foi no Municipal que liderei minhas primeiras produções e tive sucesso. Quero estar sempre disponível para o teatro.
Tema de filme
Aos 31 anos, há 11 no Royal Ballet, Thiago, nascido em São Gonçalo, está virando filme, "All I am", junto com sua mulher, a bailarina argentina Marianela Nuñez. No dia 27, a diretora inglesa Beadie Finzi vai rodar cenas na Lapa. Ela quer que, num sábado à noite, em meio à multidão, ele comece a fazer um solo.
— É um momento na minha cabeça em que me lembro de como sou quando estou no Rio e em que rememoro meu passado de classe média, vivendo entre a Zona Sul e a Zona Norte. Beadie acha que a Lapa é onde se encontram ricos e pobres — diz ele, feliz com o projeto. — Não queria que fosse um filme narcisista, ela com a câmera atrás de mim, dançando no mundo todo. Está ficando meio surreal, e isso está me interessando.
Thiago diz que é um prêmio participar da atual montagem de "Onegin", ao lado de Ana.
— Dançar no Teatro Municipal uma criação do Cranko para a Marcia, adaptado do clássico de Alexander Pushkin, com música de Tchaikovsky? É o crème de la crème."
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